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Diários de Havana I (5)

(5)
ESBU

 

Acabo de chegar. Entro no Centro Histórico (Casco Histórico, Plaza Vieja, algo assim, ainda não sei bem onde estou) e que vejo? Uma escola primária. Ou pré-primária. Ao lado de um restaurantezinho sofisticado. Bom, já gostei. O saber junto ao prazer.. Sem contar que muitos dos antigos prédios coloniais encontram-se ocupados; com calcinhas, lençóis e camisetas pendurados ostensivamente nas cordas. Como bandeiras desfraldadas. Tudo isso sem policiais, sirenes, camburões, faixas nem discursos. Mais um pouco e aparece um magote de crianças entre quatro e seis anos, embecadas, tirando fotos em frente ao museu. Fotografo as crianças e os fotógrafos. A guardete me diz que é uma formatura de pré. Que gracinha!

Na Praça General Maceo, bem do outro lado do Casco, uma ESBU. Que será isso? Chego mais perto para decifrar e vejo que é Escola Secundária Básica Urbana. Ah… Para servir de exemplo me passa uma esbuzinha “preparada”, toda balouçante. Dava para ver a base da bunda. Pelo visto, Fidel liberou o comprimento das sainhas. Bueno!

Gozado. Há um “custo Brasil” que não corresponde a um “custo Cuba”. O pedreiro do apartamento onde estou hospedado tem uma camerazinha digital com minidisquete. Me mostra fotos de vários estágios do banheiro que está reformando. Diz que a câmera é trabalho e também hobby. Aqui tem médico que trabalha como motorista de táxi. Funciona. Você vai pedir informação prum gabiranha e ele te fala de perpendiculares, paralelo de Greenwich, PIB, saneamento básico, o escambau. Bem, não sei se isto é tão bom assim. O objetivo do conhecimento é colocá-lo em prática. O cara é cirurgião-dentista e trabalha instalando paralelepípedo, porra! Saber e não praticar ainda não é saber. Pelo menos, enquanto coletividade. Mas é legal ouvir o trabalhador braçal dizer: arrebentou um pedaço de 20 metros cúbicos da mureta do Malecón!

Fui comprar uns livros para minha sobrinha Filó, contadora de histórias. Acostumado com os preços em divisas das outras livrarias e com a falta de tudo que procurava, fui surpreendido por uma com jeito de repartição pública, muita variedade e preço lá em baixo. Tinha tudo que eu queria, e até o que não sabia que queria. Uma nova edição de Coração, de Edmundo D’Amicis (foi lendo ali sua biografia que fiquei sabendo que ele era comunista. É, de carteirinha). E o Pedreirinho, personagem que povoou meu piegas imaginário infantil, tem um nome chique em espanhol: Albañilito. Gostou? Comprei. Não sei se para minha sobrinha ou para minhas saudades. Mais dois livros com antigas histórias infantis ibero-mouriscas. Incríveis! A vendedora me oferece um livro de contos recolhidos por José Martí. Folheei de má vontade, preconcebendo que eram panfletários. Feliz engano. Preço total: 35 pesos cubanos, 1,5 dólar. Por cinco livros maravilhosos! Bom, aposto que ela vai criticar o valor do presente. Mas são livros subsidiados pelo governo. E o que vale é o conteúdo, não o preço, né não, Filózinha?

Livraria com jeito de repartição pública? Bem, estou me repetindo, porque parece que tudo aqui é público: hotel, restaurante, táxi….

 

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