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Diários de Havana I (2)

(2)
Calles e Ruas

Vim de volta. Um pesteadinho veio latindo atrás do outro. Passou perto de mim bufando. Não me deu muita bola. Foi aí que vi o grafite, na parede descascada da esquina. Escrito claramente: Edite es lo máximo. Deve ser alguma Edite especial, cubana, das de boa safra, porque convivi intimamente com uma, xará desta, que não era tão legal não. Precisava melhorar muito para ficar mais ou menos. Olhei as placas com os nomes, ao alto: Calle Concórdia com Lealtad. Nenhuma sintonia com minha ex. Uma combinação destas, só em Havana.

Aliás, a todo instante estranho esses nomes de ruas em Havana. Perdido no mapa, pergunto a um senhor – a cara do meu tio Artur, lá de Ponte Nova – onde fica o Museu do Chocolate. Responde: está perto, desce aqui a Rua da Amargura, é logo na esquina. Desço, olho as placas, lá está o Museu. Acho que chocolate com amargura não combina muito, mas, enfim…

Às vezes até dá certo – a Rua da Perseverança é paralela à Rua da Esperança – mas quase sempre causa perplexidade: a Rua 10 de Outubro (que é o dia da Abolição da Escravatura aqui em Cuba) fica entre Dolores e Delícias. Mas Concepción e Delícias são paralelas! Pensem bem, que mãe concordará que concepção e delícias nunca se encontrem? E a embaixada do Brasil fica na Rua da Lamparina. É por isso que não funciona. Lamparina em tempo de néon…

Passei pela Calle Pozos Dulces. Perguntei se tinha havido algum poço com água doce por ali. Me disseram que não. É que no local morara o Conde de Pozos Dulces. Ah, bom…. E na Calle Puerta Cerrada. Algum Conde da Porta Fechada? Não, é que havia uma grande porta no final da rua, que estava sempre fechada. Ah, bom…

Sabiam que em Havana a Rua dos Anjos é continuação da Rua Obra-Pia? (Muito justo). Ah, e que a Casa do Tango fica na Rua da Amizade? (se bem que esquina com a Rua da Águia, mas, em se tratando de argentino, tudo é possível, né não? Tem sempre uma catimba).

Quando vai terminando minha temporada em Havana, as ruas vêm acompanhando minha saudade prévia. Sento para tomar uma dose de Havana Club puro num boteco na esquina da Rua Concórdia com Solidão (boteco mesmo, no sentido carioca do termo, não tem em Cuba, não. Por mais propício que seja o local, qualquer botequim acaba ficando com cara de restaurante, desses antigos, dos anos 50). Observo que a Casa de Abuelos La Felicidad fica perto da Tienda de la Ilusión. Será que tem algo de ilusão a felicidade dos velhinhos? Preciso ir me preparando…

Tenho que arrumar as malas. Meio alegrinho, vou descendo a Rua Amenidad em direção a Plaza de la Revolución

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